Fazendo a Capa
É comum ouvirmos dizer, quando se fala de futebol (e Vigia sofre uma grande e forte influência desse esporte) que quem está de fora enxerga melhor a jogada. É provável que um simples torcedor não conheça o planejamento, a tática, o preparo físico ou o orçamento do clube, mas tem ampla visão dos resultados e assim sendo, tem propriedade para dizer se tais resultados lhes são plausíveis ou não.
Olhando para o serviço público de nosso país, podemos fazer a mesma comparação. O cidadão, talvez não conheça os permeios da administração, mas quer resultados. E não adianta o Governador ou prefeito vir com desculpas, pois durante suas campanhas, nenhum deles prometeu não resolver os problemas de seu Estado ou Município. Ao contrário, todos apontavam erros de seus antecessores e pousavam de peritos na gestão pública.
No futebol há aquele jogador que entra em campo apenas porque o patrocinador exige que ele seja escalado, pois precisa expor sua marca ou seu produto e seu único compromisso é com aqueles que bancam sua carreira.
Há também aquele jogador que joga para o time, quase não aparece, mas é fundamental para a equipe, pois funciona como um garçom. É o jogador que cumpre bem o esquema tático e técnico, e por ser disciplinado, não permite que o time fuja dos objetivos.
No campo político também há grandes jogadores. Aqueles que realmente estão preocupados com o Município do qual são representantes. São esses que buscam melhorar a vida de seu povo e durante suas campanhas não fazem promessas absurdas. Buscam sempre cumprir com as leis, inclusive a de responsabilidade fiscal. Procuram seguir o que reza o princípio da honestidade para com o povo e para consigo mesmos. Políticos assim estão em extinção, mas ainda há alguns por aí.
Em contrapartida, aparecem aqueles que não estão nem aí para o bem coletivo. São os que já entram em campo com seu “bicho” garantido. Não tem compromisso com a população e entram em campo apenas pra fazer finta, pois precisam fazer média para seus patrocinadores. Políticos dessa linha não jogam para o time, apenas para se autopromover. São daqueles com fama de matador, que esperam a equipe jogar em função deles. E como se diz no futebol, ficam em campo apenas para fazer a capa.
Tenho observado que, ultimamente, a prefeitura de Vigia retomou algumas construções e reformas. Percebi que estão sendo construídos os meios-fios (aquela caneleta lateral das ruas para dar vazão à água da chuva ou mesmo das residências); novos prédios para escolas também foram construídos, novos postos de saúde e pracinhas no interior - agora com um coreto -, “só faltou a televisão”. Enfim, Parece-me que o prefeito não sabe (e ele é médico) que, enquanto não se constrói um prédio novo para um hospital decente no município, é necessário tornar decente o atendimento naquele que temos, ao invés de transformar o dinheiro público em casinholas que não abrigam ninguém da chuva e não servem pra fazer sombra.
Não fui aluno dele, mas sei que também atuou como professor nesta cidade. Mesmo assim não aprendeu que prédios novos não resolverão a vida da educação, se não houver investimento na pedagogia, na formação continuada dos profissionais, na qualidade do ensino e na valorização do professor. E isso deve começar pela promoção de concursos e por melhores salários.
Quanto ao calçamento das ruas, fico ainda mais preocupado, pois nossos velhinhos e crianças estão perdendo o direito de caminhar pela cidade. Acho mesmo que as ruas devem ser caçadas e com um sistema de esgoto decente. É o mínimo que um prefeito tem que fazer. Se, numa cidade do tamanho de Vigia, isso não for feito, melhor é não ter prefeito.
O problema é a falta de consciência e educação no trânsito. Pessoas sem o mínimo de noção, habilidade e habilitação, inclusive menores, conduzem veículos automotores, colocando em risco a vida de muita gente que não conta com um serviço de fiscalização de trânsito como deveria. São inúmeros os delitos cometidos no trânsito desta cidade. Mas parece-me que a prioridade é melhorar as vias para esses condutores, que tentam justificar suas transgressões com a falta de sinalização.
A violência contra os torcedores, digo, contra os eleitores é gritante. Somos agredidos na saúde, na educação, na segurança pública e em muitos outros setores da administração pública municipal. Mas como disse anteriormente, estamos de fora e temos toda a visão do que está acontecendo dentro do campo, ou melhor, dentro do Município e qualquer hora vamos dizer aos quatro ventos que o “comandante” está mexendo errado no time, ou no setor errado. A torcida, ou os eleitores não querem fotos aéreas. Precisamos de investimentos na qualidade dos serviços públicos oferecidos à população. Não precisamos de obras apenas para fazer a capa.
Enquanto a saúde luta com todas suas forças para sair da UTI, enquanto o povo implora por um atendimento digno que possa lhe garantir mais alguns dias de vida, o Prefeito de Vigia de Nazaré parece acreditar mesmo no paraíso pós-vida terrena, pois está mais preocupado em proporcionar a seus munícipes o descanso eterno. Basta olhar para a necrópole da cidade.
Durante o tempo que morei aqui, acompanhei a luta de muitos vigienses interessados em fazer de Vigia um pólo turístico que pudesse gerar emprego e renda para o município. Essas pessoas lutavam para que nosso Círio tivesse mais visibilidade no Estado, tentaram fazer da Igreja de Pedras nosso Teatro Municipal, reformaram a Cinco de agosto e informatizaram-na; tentaram organizar o calendário cultural do município e reconstruir o Forte do Barão de Guajará, no Taupará. Se esses vigienses, verdadeiros jogadores, daqueles que jogam para o time, tivessem, pelo menos sido escutados por nossos gestores, o lugar mais bonito a ser visitado por nossos turistas, hoje, em Vigia, não seria o Cemitério Municipal!!
Vigia, 10 de julho de 2011
Professor Lobão