“O Bloco B”
Nos últimos dois anos, tenho acompanhado minha mãe (diabética) em suas consultas no Hospital geral de Macapá. Podia levá-la a uma unidade particular, mas entendemos que já pagamos muito caro para se ter, no mínimo, um atendimento razoável e temos que fazer valer nossos direitos.
Enquanto escrevia estas linhas fiquei observando as atrocidades que ocorrem nos corredores do “Bloco B”.
Bem piores que minha mãe (que tem filhos pra acompanhá-la, vem de carro e tem um ou dois reais para comprar uma água mineral), estão muitas pessoas de idade bem avançada, com seus movimentos físicos comprometidos, apoiados em pedaços de madeira (aquilo não é bengala); tímidos, na hora de pedir uma informação e com um desejo de ser bem atendido estampado nos olhos.
Não sei que tratamento recebem no consultório, mas nos corredores do “Bloco B”, a situação é humilhante.
Enquanto aquelas pessoas, que trabalharam e contribuíram a vida inteira para com este estado, imploravam por um tratamento digno, hora e outra pessoas de jaleco branco saíam dos consultórios, paravam diante dos pacientes, alheios a todo aquele sofrimento e comentavam o capítulo da novela da noite anterior, ou quem foi eliminado do Big Brother, eliminando o último fio de esperança daquela gente de receber a notícia de que seu médico chegou (pelo menos isso).
Os homens e mulheres de branco parecem anestesiados pela falta de condições de trabalho, pelo baixo salário e pela falta de humanidade. Se contassem uma piada para aquelas senhoras, senhores e crianças, sedentas por atenção, fariam coisa melhor que preencher fichas e fingir que nada está acontecendo por ali.
Tentei falar do atendimento, mas desistir. Nos corredores do “Bloco B” não há atendimento!!
Lembrei, então, de quando era menino, no interior do Pará e alguém me prometia um presente pelo natal – cada vez que alguém batia à porta meu semblante mudava e a esperança de receber o tal presente, quase se materializava em meus olhos. Liguei esta situação a situação daquelas pessoas nos corredores do Hospital Geral.
O ruído de uma porta se abrindo tornara-se o sinal pro mais perfeito sincronismo de cabeças em busca de um simples olhar complacente. Em cada porta aberta pelos funcionários daquela unidade de saúde, era visível o brilho nos olhos sofridos daquela gente maltratada. Parecia coreografado o movimento das cabeças ao menor ruído de uma porta se abrindo – ansiedade pelo atendimento.
É impressionante como aqueles “pacientes” imploram por uma resposta, uma informação, um gesto gentil, tipo: “Querido (a)!! Seu médico já está chegando. O Senhor(a) aceita um copo d’água?! Dizem isto sem proferir uma só palavra. Só não entende quem não tem o mínimo de sensibilidade .
Estes absurdos do “Bloco B” me remeteram imediatamente à Pet shop, onde minha namorada leva seu cãozinho. Lá, logo na chegada, alguém pega o animal, examina-o e leva-o para o Box de higiene, enquanto o dono se delicia com um gostoso café.
Aqueles coitados contribuintes do estado “têm menos direitos que um cachorro”. Tive a impressão que alguns funcionários estão ali obrigados, sem o mínimo de vontade de exercer um ofício tão importante e, muito menos, vocação para o serviço público.
Na Pet shop um animal leva, no mínimo, três horas para tomar um banho. Não sei o que acontece no consultório, mas na fila, nenhum cachorro ganha dos pacientes: a espera chega a quatro horas.
Não sei o que vai acontecer se mandarmos nossos pacientes para a Pet shop! Mas, se mandarmos nossos cachorros para o “Bloco B” do Hospital Geral de Macapá, eles irão se sentir muito mal!!!!
Professor Lobão
Macapá, 12 de abril de 2010
lobaonaoemau@hotmail.com