Consultas ou insultos
Não me lembro bem o dia, mas a pedido de um velho amigo, fui ao posto de saúde de Vigia de Nazaré, no nordeste do Pará.
Em menos de duas horas naquela unidade de saúde, onde pessoas vão na esperança de serem bem recebidas, tive a infelicidade de presenciar o descaso das autoridades com a saúde pública daquele município. O pior é que as pessoas já nem reclamam do péssimo atendimento. Talvez para não perderem tempo ou por não terem visto coisa melhor.
Meu amigo chegou com dois tiros na perna e não recebeu, sequer, um olhar de acolhida. Menos de um minuto depois, um fiorino-baú chegou trazendo um jovem desmaiado (epilético) e nem ao menos um auxiliar de enfermagem para recebê-lo.
Já no interior do "hospital" encontrei outros amigos: uns funcionários, outros pacientes. Entre os pacientes estava Orlando (ator), que parecia estar fazendo teatro, pois sua consulta demorou um pouco mais de um minuto - logo percebi que seu tempo de consulta estava dentro da média.
Diante do tempo de consulta de meu amigo-paciente, resolvi cronometrar as outras consultas e constatei que meu amigo, realmente, não estava fazendo teatro, pois o paciente que mais teve a atenção do médico que consultava, permaneceu no consultório dois minutos e quarenta e um segundos, e o mais desprovido de sorte, permaneceu na consulta quarenta segundos e vinte e um centésimos. Não sei se era eficiência ou deficiência no atendimento - fiquei atônito.
Tudo isso me remeteu ao serviço de auto-lavagem, onde lavo minha moto em Macapá. Lá, logo na recepção, alguém toma as chaves do veículo, estaciona e lhe serve suco ou café. Eu e minha moto somos muito bem tratados. Se eu pudesse compará-la a uma pessoa, diria que tem mais sorte que os "vigienses de Nazaré".
Moro no estado do Amapá há doze anos e percebi que nesse período Vigia cresceu, atingiu a maior idade e mudou de nome - é um direito seu. Pelo menos isso, já que o descaso e a incompetência lhes negam, entre outros, o direito à saúde.
Ainda bem que agora é Vigia de Nazaré, do carnaval e da fé. Então, sigamos com fé, pois a saúde pública já falhou e como disse Gilberto Gil: A fé não costuma falhar.
Ah! Ia esquecendo! A moto, só para tomar um banho, leva um pouco mais que duas horas e é apenas uma máquina sem alma, sem rosto, sem sentimentos.
Professor Lobão em 05/11/2009
Meu caro professor Lobão,
ResponderExcluirmeu amigo meu irmão,
é de cortar o coração,
mas essa é a realidade,
desta nossa grande nação.
As autoridades não fazem nada,
o povo vive que nem alma penada,
povo meu sofrido,
por essa corja esquecido.
Mas nos resta acreditar,
que um dia isso vai mudar,
não sei como, nem quando,
mas vou continuar acreditando,
e em quanto esse dia não chega,
vamos continuar rezando/orando.
Fico triste por nossa cidade,
mesmo que essa seja uma de tantas outras realidades,
logo lá "Vigia de Nazaré",
Vigia das Marias, das Joanas,
de todas elas de muita fé.
Vigia do prof. Lobão
do Manoel da Ressurreição,
do Pe. Carlinho e Abraão,
do saudoso sapito,
que as autoridades meu rei,
possa ouvir do seu povo
seu clamor, o seu grito.