Tratamento Vip
Não me lembro bem o dia, mas era o ano de 2006. O sol, como sabemos, aqui próximo à linha do Equador, escaldava tudo e parecia querer torrar nossas cabeças. Passavam alguns minutos das doze horas, quando duas jovens professoras bateram em minha porta (moro em frente a uma escola) pedindo um copo d’ água e um lugar que pudessem, ao menos sentar-se, para amenizar o cansaço que parecia materializar-se em seus rostos, após setenta e duas horas de espera para tomar posse – haviam sido aprovadas no concurso público estadual daquele ano.
Depois da aprovação, elas assim como outros profissionais da educação aprovados em concursos naquele e em outros anos, foram convidadas para um “chá” na SEAD. Chá de cadeira (mas não há cadeiras); uma verdadeira prova de resistência. Tenho a impressão que fazem aquilo para que alguém desista. São filas intermináveis, onde os professores são obrigados a encarar chuva, sol e durante as noites sereno e insegurança. Tudo isso fruto de uma falta de respeito sem precedentes para com o profissional que inspira os mais belos discursos em palanques políticos.
Já na escola, pelo menos é o que se tem visto nos últimos anos, esses profissionais não tem o mínimo de apoio para desenvolverem seus trabalhos. São desrespeitados mais uma vez por seu empregador.
Fico pensando nas recomendações que os pais fazem para que os alunos respeitem seus professores. Fico me perguntando como esses meninos irão respeitá-los, se a própria secretaria de educação não os respeita, não os valoriza; e tal falta de respeito e valorização já começa no momento de assinar o termo de posse e receber sua carta de apresentação. Há um descompasso muito grande entre Secretaria de Educação e Educação!!!! Quem educa respeita!
Não estou aqui querendo culpar este ou aquele governo. Estou apenas querendo que quem estiver à frente do Estado, seja qual for a secretaria, valorize mais e respeite seus funcionários, pois ninguém é servidor de governo, somos servidores do Estado e a ele queremos fazer o nosso melhor.
Mas porque estou falando isso agora? Essa pergunta deve pairar sobre suas cabeças neste momento. Acontece que estive na Secretaria de Educação no início deste ano e testemunhei profissionais graduados e pós-graduados sendo submetidos a um tratamento digno de feira livre, onde ninguém tem informações concretas, onde é preciso que a justiça entre em ação para a lisura de um processo de contratação acontecer.
Lembrei também que passei por isso há alguns anos. Mas a euforia pelo trabalho era tanta que nem percebi. Também pudera! Eu era bem jovem e recém-saído do grupamento de fuzileiros navais: Teste de sobrevivência, pra mim, naquela época, era passeio no parque.
Estou falando de Educação, de professores, de pessoas que passaram anos de suas vidas estudando, cursando uma licenciatura, na esperança de contribuir na formação cidadã do Estado. Estamos falando do tratamento (se é que podemos chamar isso de tratamento) que recebem os que inspiram os belos discursos nos palanques políticos.
Fiquei sabendo com alegria e com tristeza do que aconteceu no momento de uma funcionária, concursada em Nível Médio, assinar seu termo de posse no Fórum local: Coquetel, chiquérrimo, segundo ela mesma. Nada contra! Acho que o profissional tem que ser tratado assim mesmo (por isso fiquei alegre). Mas, e o professor nesse mesmo momento: sol, chuva, sereno, falta de respeito e nem ao menos caldo de cana – não que seja ruim (adoro caldo de cana), mas é bem barato e vende nas barraquinhas próximas da fila !!!
Macapá, 10 de março de 2011
Professor Lobão