terça-feira, 29 de março de 2011

Tratamento VIP

Tratamento Vip
Não me lembro bem o dia, mas era o ano de 2006. O sol, como sabemos, aqui próximo à linha do Equador, escaldava tudo e parecia querer torrar nossas cabeças. Passavam alguns minutos das doze horas, quando duas jovens professoras bateram em minha porta (moro em frente a uma escola) pedindo um copo d’ água e um lugar que pudessem, ao menos sentar-se, para amenizar o cansaço que parecia materializar-se em seus rostos, após setenta e duas horas de espera para tomar posse – haviam sido aprovadas no concurso público estadual daquele ano.
Depois da aprovação, elas assim como outros profissionais da educação aprovados em concursos naquele e em outros anos, foram convidadas para um “chá” na SEAD. Chá de cadeira (mas não há cadeiras); uma verdadeira prova de resistência. Tenho a impressão que fazem aquilo para que alguém desista. São filas intermináveis, onde os professores são obrigados a encarar chuva, sol e durante as noites sereno e insegurança. Tudo isso fruto de uma falta de respeito sem precedentes para com o profissional que inspira os mais belos discursos em palanques políticos.
Já na escola, pelo menos é o que se tem visto nos últimos anos, esses profissionais não tem o mínimo de apoio para desenvolverem seus trabalhos. São desrespeitados mais uma vez por seu empregador.
Fico pensando nas recomendações que os pais  fazem para que os alunos respeitem  seus professores. Fico me perguntando como esses meninos irão respeitá-los, se a própria secretaria de educação não os respeita, não os valoriza; e tal falta de respeito e valorização já começa no momento de assinar o termo de posse e receber sua carta de apresentação. Há um descompasso muito grande entre Secretaria de Educação e Educação!!!! Quem educa respeita!
Não estou aqui querendo culpar este ou aquele governo. Estou apenas querendo que quem estiver à frente do Estado, seja qual for a secretaria, valorize mais e respeite seus funcionários, pois ninguém é servidor de governo, somos servidores do Estado e a ele queremos fazer o nosso melhor. 
Mas porque estou falando isso agora? Essa pergunta deve pairar sobre suas cabeças neste momento. Acontece que estive na Secretaria de Educação no início deste ano e testemunhei profissionais graduados e pós-graduados sendo submetidos a um tratamento digno de feira livre, onde ninguém tem informações concretas, onde é preciso que a justiça entre em ação para a lisura de um processo de contratação acontecer.
 Lembrei também que passei por isso há alguns anos. Mas a euforia pelo trabalho era tanta que nem percebi. Também pudera! Eu era bem jovem e recém-saído do grupamento de fuzileiros navais: Teste de sobrevivência, pra mim, naquela época, era passeio no parque.
Estou falando de Educação, de professores, de pessoas que passaram anos de suas vidas estudando, cursando uma licenciatura, na esperança de contribuir na formação cidadã do Estado. Estamos falando do tratamento (se é que podemos chamar  isso de tratamento) que recebem os que inspiram os belos discursos nos palanques políticos.
Fiquei sabendo com alegria e com tristeza do que aconteceu no momento de uma funcionária, concursada em Nível Médio, assinar seu termo de posse no Fórum local: Coquetel, chiquérrimo, segundo ela mesma. Nada contra! Acho que o profissional tem que ser tratado assim mesmo (por isso fiquei alegre). Mas, e o professor nesse mesmo momento: sol, chuva, sereno, falta de respeito e nem ao menos caldo de cana – não que seja ruim (adoro caldo de cana), mas é bem barato e vende nas barraquinhas próximas da fila !!!

                                                                        
Macapá, 10 de março de 2011
 Professor Lobão

sábado, 26 de março de 2011

                   Não se Pode Servir a dois Senhores
Há alguns dias atrás, assistindo a uma revista eletrônica, da qual me recuso a citar o nome, fiquei assustado com as denúncias, por ela feita, de garotas, inclusive menores, sendo exploradas sexualmente.
A matéria, que ocupou um espaço imenso do programa, mostrava como brasileiros, alemães, colombianos, italianos e outros turistas estrangeiros comercializam nossas mulheres, como se fossem um produto qualquer.
Esses gringos são atraídos ao Brasil, segundo a reportagem, pela vasta propaganda que é facilmente encontrada na internet, folders e até mesmo em cartazes.  O que deixou o casal de apresentadores e muitos brasileiros boquiabertos.
Além da exposição de garotas de programas  nas praias, calçadas e em danceterias, as casas de prostituição, sem o mínimo de senso moral, ainda mostram a nova “safra” de seus produtos, fazendo crianças subirem aos palcos e dançarem juntos com prostitutas.
Quem assistiu à matéria  sentiu vergonha de ser brasileiro. E o  que sentiram as brasileiras?
Nosso país que sempre se orgulhou pelo samba, futebol e pela beleza feminina, agora tem motivos para se preocupar com esta última dádiva. Estão comercializando o que não tem preço.
Parece-me que a emissora quis chamar a atenção das autoridades, pais e líderes religiosos para o problema. Entendi que a reportagem “cumpriu” seu papel de fazer a denúncia de que nossas meninas estão sendo expostas e incentivadas ao obsceno, à vulgaridade, à perda dos princípios éticos e morais.
Terminado o programa, começou um reality show – o que  de mais mesquinho uma emissora de televisão pode promover. Nesse programa  pós revista eletrônica, pós a belíssima reportagem que denunciava a perda de princípios e a exposição da mulher brasileira em casa de prostituição Brasil a fora, vi a mesma emissora apresentar em rede mundial, pessoas que se submetem a verdadeiros absurdos por um milhão de reais.
Uma jovem linda (pelo menos eu acho) protagonizando cenas da mais pura falta de amor próprio, de princípios morais e tudo que até as garotas mostradas na reportagem, muitas vezes, não fazem. E quando fazem por uma questão econômica, não o fazem para um país inteiro ver. Parece que o que vale aí é aquela velha máxima ditatorial: "Faz o que eu digo, mas não faz o que eu faço". Eles podem expor nossas mulheres e também podem fazer denúncia! Só eles!
Penso que temos que começar a analisar se emissoras como essas não estão tentando “tapar o sol com a peneira”. Produzem essas reportagens para nos anestesiar. Querem entorpecer educadores e pais, que em alguns casos, ludibriados pela matéria anterior, permitem que seus filhos fiquem diante da “telinha” e aprendam com os integrantes da “nave” como se faz pra se tornarem “heróis”.
Mas já devia estar acostumado com isso, pois quando ainda era criança e nem tinha televisão em minha casa, vi essa mesma emissora denunciar, na mesma revista eletrônica e com muita veemência, a chacina da Candelária. Porém, logo em seguida exibiu um filme denominado Desejo de Matar, no qual o herói era um policial, que em uma cidadezinha, exterminava garotos de uma gangue.
É fantástico como essa emissora consegue acender uma vela pra Deus e outra pro Diabo!!!
Professor Lobão


terça-feira, 22 de março de 2011

Inversão de Valores

Inversão de Valores


Era um tarde aparentemente normal, quando eu e minha sobrinha fomos parados numa blitz da polícia militar, na Pa 140, em Vigia, nordeste do Pará.
Minha sobrinha estava de capacete; eu, como bom condutor que sou, estava de capacete, com carteira de habilitação e documentos da motocicleta atualizados, além de botas, luvas e jaqueta apropriada para condução de motocicletas...  Tudo dentro das normas de segurança. Ainda assim, nossa viagem foi atrasada em 30 minutos pelo policial que insistia em encontrar alguma irregularidade. Até aí tudo bem não fosse o fato de caçambas saírem de um areal (a cinco metros da barreira policial) totalmente descobertas. Outros carros, também, passavam pelo local com excesso de passageiros; outros eram carros abertos transportando pessoas.
        O que mais me intrigou foi perceber que outros condutores de motocicletas, sem capacete, com a lanterna de seus veículos apagada, provavelmente sem habilitação, passavam pela barreira policial sem serem importunados. Foi então que perguntei ao policial por qual motivo, apenas eu estava sendo parado para averiguação. Não podia ter surpresa maior na resposta do “agente de trânsito”.
- “Estão ocorrendo muitos assaltos na cidade. Esta é uma operação de rotina para abordagem de suspeitos”.
Diante da resposta do policial conclui: Para a Polícia Militar do Pará, certo está quem faz errado e quem faz certo é digno, apenas, de suspeita.


Professor Lobão

A lei por cima dos fracos (da série Vigia sem Vigia)

A lei acima de tudo, não por cima dos fracos

Era uma tarde ensolarada de abril em que eu tomava um café num bairro periférico de Vigia de Nazaré, quando uma gritaria me chamou a atenção.
Alguns garotos, que brincavam na praça, perto de um colégio de freiras, fugiam amedrontados. Talvez por denúncia ou por eficiência, a polícia chegou ao local com a ameaça de cortar a bola e prender um dos garotos que se recusara a entregar-se e a entregar o único meio de diversão de milhares de brasileirinhos do país do futebol.
O inusitado é que horas antes desta eficiente ação da polícia, há alguns metros dali, antes da bela cena de cumprimento da lei: é proibido jogar bola na rua – como disse o policial - um aluno do mesmo colégio de freiras teve sua bicicleta roubada e não contou com a mesma eficiência da polícia.
É mais fácil afugentar meninos que arrumaram um meio de passar o tempo de forma saudável do que prender traficantes, assaltantes, autuar condutores de veículos, sem habilitação; é mais cômodo fingir que não vemos o que nos salta aos olhos, do que dizer aos nossos superiores o que precisa ser feito – falar a verdade é perigoso (Cristo fez isso e foi crucificado).
Da mesma forma posso afirmar que meninos e meninas brincam nas ruas por falta de um espaço adequado e destinados a eles. Se isso acontece é porque o poder público falhou – Quanto custa uma hora de jogo no ginásio Atenas Paraense, ou na quadra do colégio de freiras, ou nas arenas particulares? “A granja, o maior complexo esportivo de Vigia”, agora é bairro (era particular, mas era de graça) - muitas vezes joguei futebol por lá. Na Praça Olavo Raiol, agora se joga dama, baralho e dominó.
Vejamos o que acontece nas praças de Vigia nos finais de semana: cada um quer colocar o som de seu carro no mais alto volume, como se ali acontecesse uma  disputa de som automotivo, o que causa uma poluição sonora sem precedentes, impedindo que pessoas comuns possam levar seus filhos para passear. As praças de Vigia, aos fins de semana, mais parecem uma Torre de Babel - nem se pode conversar, não é possível escutar o outro. E onde está a polícia? A lei? As autoridades? Ou pelo menos alguém para denunciar?
Antes de reprimir os que arrumam um espaço “alternativo” para o lazer, é necessário criar essas alternativas e que sejam acessíveis às classes menos favorecidas.
Até onde eu sei, a lei deve punir aqueles que, providos de conhecimento e educação, praticam atos que vão de encontro à cidadania.
Enquanto os garotos fugiam atordoados, saí para ver o que acontecia e me deparei com um policial que dirigia uma moto biz (ele estava sem capacete, provavelmente não tinha habilitação). Quem estava mais errado ali? O representante da lei ou aqueles garotos que nem sabiam qual o delito cometido?
Se minha avó estivesse viva diria: “O exemplo deve começar pelos de casa”. A lei deve estar acima de tudo, não por cima dos mais fracos.

Professor Lobão

"Governo do Ministério Público"

Governo do Ministério Público
É comum ouvirmos pelas ruas, nas rodas de amigos, mesas de bares, noticiado em jornais, revistas e televisão que o Ministério Público do Amapá fez esta ou aquela orientação e obrigou o Governo do Amapá (se é que podemos chamar isso de governo) a proceder desta ou daquela maneira.
São inúmeras as providenciais intervenções do MP no estado mais preservado da união.
Paralelo a isso, está a precariedade nos mais básicos serviços oferecidos à população: saúde, educação, transporte,  cultura,  segurança pública, etc ... etc ... O que tem de sobra na administração desses serviços é incompetência.
Outro dia, Wlad, deputado federal pelo Pará, andou manifestando o desejo de nosso “torrão” voltar aos domínios de seu Estado, por incompetência administrativa de nossos governantes. Isso soou como agressão a nossa gente. Também achei um absurdo, a devolução em si. Mas, pensando bem, já que é o ministério Público que de fato gerencia tudo por aqui, comecei a gostar da loucura do deputado, pois, pelo menos nos serve como reflexão.
Vira e mexe, tem um promotor na televisão dizendo o que o governo, seja municipal ou estadual, tem que fazer, sob pena de responder sua improbidade ou impropriedade administrativa, na forma da lei. E assim caminha o Amapá: Empurrado pelo Ministério Público!!!
Não seria melhor mudar o sistema organizacional deste estado?? Acho que os políticos deveriam ir às universidades aprender políticas públicas, enquanto o judiciário, que conhece a legalidade da administração, governa. Penso que seria mais acertado.
Aqui no Amapá é assim: os políticos recebem os votos, são eleitos e passam de quatro a oito anos dando trabalho ao Ministério Público, que tem que ficar conduzindo, de fato, este estado.
Assim, o Amapá, me parece, que é um estado  governado pelo Ministério Público!!!! Só não sei se isso é bom ou é ruim!!!

Macapá, 08 de agosto de 2010
Professor Lobão
     lobaonaoemau@hotmail.com