terça-feira, 22 de março de 2011

A lei por cima dos fracos (da série Vigia sem Vigia)

A lei acima de tudo, não por cima dos fracos

Era uma tarde ensolarada de abril em que eu tomava um café num bairro periférico de Vigia de Nazaré, quando uma gritaria me chamou a atenção.
Alguns garotos, que brincavam na praça, perto de um colégio de freiras, fugiam amedrontados. Talvez por denúncia ou por eficiência, a polícia chegou ao local com a ameaça de cortar a bola e prender um dos garotos que se recusara a entregar-se e a entregar o único meio de diversão de milhares de brasileirinhos do país do futebol.
O inusitado é que horas antes desta eficiente ação da polícia, há alguns metros dali, antes da bela cena de cumprimento da lei: é proibido jogar bola na rua – como disse o policial - um aluno do mesmo colégio de freiras teve sua bicicleta roubada e não contou com a mesma eficiência da polícia.
É mais fácil afugentar meninos que arrumaram um meio de passar o tempo de forma saudável do que prender traficantes, assaltantes, autuar condutores de veículos, sem habilitação; é mais cômodo fingir que não vemos o que nos salta aos olhos, do que dizer aos nossos superiores o que precisa ser feito – falar a verdade é perigoso (Cristo fez isso e foi crucificado).
Da mesma forma posso afirmar que meninos e meninas brincam nas ruas por falta de um espaço adequado e destinados a eles. Se isso acontece é porque o poder público falhou – Quanto custa uma hora de jogo no ginásio Atenas Paraense, ou na quadra do colégio de freiras, ou nas arenas particulares? “A granja, o maior complexo esportivo de Vigia”, agora é bairro (era particular, mas era de graça) - muitas vezes joguei futebol por lá. Na Praça Olavo Raiol, agora se joga dama, baralho e dominó.
Vejamos o que acontece nas praças de Vigia nos finais de semana: cada um quer colocar o som de seu carro no mais alto volume, como se ali acontecesse uma  disputa de som automotivo, o que causa uma poluição sonora sem precedentes, impedindo que pessoas comuns possam levar seus filhos para passear. As praças de Vigia, aos fins de semana, mais parecem uma Torre de Babel - nem se pode conversar, não é possível escutar o outro. E onde está a polícia? A lei? As autoridades? Ou pelo menos alguém para denunciar?
Antes de reprimir os que arrumam um espaço “alternativo” para o lazer, é necessário criar essas alternativas e que sejam acessíveis às classes menos favorecidas.
Até onde eu sei, a lei deve punir aqueles que, providos de conhecimento e educação, praticam atos que vão de encontro à cidadania.
Enquanto os garotos fugiam atordoados, saí para ver o que acontecia e me deparei com um policial que dirigia uma moto biz (ele estava sem capacete, provavelmente não tinha habilitação). Quem estava mais errado ali? O representante da lei ou aqueles garotos que nem sabiam qual o delito cometido?
Se minha avó estivesse viva diria: “O exemplo deve começar pelos de casa”. A lei deve estar acima de tudo, não por cima dos mais fracos.

Professor Lobão

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