domingo, 17 de abril de 2011

O Poder da Palavra de Deus (da série contos Urbanos)

O Poder da Palavra de Deus

Era uma bela manhã de sol. Antes do final daquela missa de cinzas, o Padre havia convidado os fiéis para a carreata em homenagem à Santa Padroeira do lugar, que seria realizada no fim do ano – ainda era fevereiro.
 E foi quando o povo ainda saía da igreja que aquele homem, vestido em uma espécie de jaleco bem surrado, calça nas mesmas condições, chinelo de dedo e um boné com propaganda de uma concessionária, chamou a atenção de todos, em alto e bom som, dizendo: “Preparai os caminhos. O tempo está próximo. Endireitai as veredas. Todos os vales devem ser aplainados!!!  Antes de qualquer procissão, antes de qualquer carreata, pensai nisso! Não sou Padre nem Pastor, mas trago-lhes a Boa-Nova!!! Preparai os caminhos!!!
Todos que o ouviram, por um instante e durante tempo depois, ficaram perplexos. Como um homem tão simples poderia proferir palavras tão sábias. Como teve coragem para dizer aquilo na frente da igreja e após o convite do Padre?
A verdade é que a partir daquele dia, o comportamento dos fiéis católicos e de outras igrejas nunca mais foi o mesmo. Passaram a pensar mais sobre as palavras daquele profeta contemporâneo, com aparência de um antigo hebreu.
Depois daquele eloquente discurso, o sábio homem passou, quando interpelado sobre sua nobre e única pregação, a responder o seguinte: Quem quiser conhecer a verdade, a boa-nova de meu Pai, precisa seguir meus passos. Não caminhem por trilhas estranhas. Não busquem os atalhos, pois o que tenho para mostrar é o paraíso. Nessa terra prometida, de caminhos aplainados, ninguém precisará de um atalho. Caminhar será mais importante!
Com essas palavras, o número de seguidores aumentava. Vinham pessoas de todas as partes, de todas as religiões em busca das palavras daquele homem, que não falava muito, mas quando falava, fazia o povo pensar, imaginar a boa-nova por ele anunciada.
Famílias inteiras mudaram seus comportamentos, as escolas buscaram novas metodologias, as igrejas mudaram suas filosofias e todos passaram a cobrar mudanças do governo, pois aquelas palavras (endireitai as veredas e aplainai os vales) fizeram o povo pensar e se organizar para cobrar dos líderes políticos, religiosos e outras autoridades, aquilo que o próprio Cristo pregou: “Vida. E vida em plenitude”.
Parece que aquele profeta contemporâneo trazia para o Século XXI, as reflexões propostas por Jesus há mais de dois mil anos. Havia até aqueles o chamavam de O Novo Messias.
E assim, com base na coragem, nas palavras e no tom seguro de proferir passagens bíblicas daquele homem desconhecido, profundo conhecedor das palavras de Jesus, ou de João (como muitos diziam), a cidade se transformou.
Em menos de um ano, novas escolas foram construídas, o mercado foi reformado, a companhia de energia elétrica melhorou o serviço, novas empresas telefônicas instalaram-se no município, abriram-se novas lojas e supermercados; praças e novos hospitais foram construídos e as ruas, que eram de chão batido, foram todas asfaltadas.
Enquanto a cidade se transformava, enquanto as pessoas mudavam e melhoravam suas vidas, tanto econômica quanto moral e espiritualmente, aquele homem continuava sua pregação nas praças e portas de igrejas, sempre com as mesmas palavras, ou quase as mesmas, de vez em quando, outra breve citação.
Quando se aproximou o dia da carreata anunciada pelo Padre, o “Profeta” apareceu na praça da igreja e disse (sempre em alto e bom som, mas com a peculiar serenidade de um sábio): “O dia em que todos se sentirão felizes ao caminhar está próximo! Neste dia ninguém se importará com a distância, pois assim como o Pai me enviou, pelos planos caminhos, eu vos enviarei”.
Sabendo que se tratava do dia da carreata, católicos, evangélicos, Testemunhas de Jeová, adventistas, espíritas, macumbeiros, candomblé e muitos outros seguimentos religiosos organizaram-se pra seguir a carreata. Pois era certo que naquele dia, aquele homem com aparência de um profeta, que falava de um pai, tal qual Cristo falou, faria a grande revelação. Revelaria a boa-nova.
E assim, a cidade viveu dias de expectativa, apreensão, angústia, esperança e ansiedade. O Padre, o Pastor, os Político e os Empresários locais viviam um misto de sentimentos.
Se mesmo antes da revelação, as palavras daquele homem já haviam feito uma revolução no lugar, não sabiam o que pensar e nem o que dizer a seus comandados, após a tal revelação.
Quando a procissão, organizada pela igreja Católica chegou ao final, em cima do capô de um carro, o tal profeta ficou de pé, com sua habitual serenidade, agora de posse de um microfone, que um desses políticos sensacionalista lhe providenciou (mas não precisava, pois as pessoas iriam escutá-lo no mais absoluto silêncio), ele levantou os olhos, fitou a multidão e disse: “Vejo que nesta cidade, não há mais criança sem escola, sem lazer e sem direito a vida. As autoridades estão cuidando das coisas de Cezar. Os líderes religiosos cuidando das obras que são de Deus. Eu também cuido das coisas de meu Pai. A mais importante das mudanças foi feita em suas vidas e nesta cidade. Por isso, o Pai me ordenou anunciar-lhes a boa-nova.
Os vales foram aplainados, as veredas foram endireitadas e os governantes prepararam os caminhos. Agora, todos vós podeis compreender que caminhar em ruas pavimentadas é mais prazeroso. Com as ruas esburacadas, como estavam, jamais, meu pai lhes traria a boa-nova. Era preciso preparar o caminho!!!
E continuou: Bem-Aventurados os pacientes, pois estes terão a recompensa da espera! É principalmente a estes que trago a boa-nova de meu pai: Hoje, com as ruas aplainadas, asfaltadas, meu pai (tirou o boné e mostrou as inscrições à multidão) proprietário da MOTRIX CAR, implantará neste município, uma filial de sua empresa de transporte e turismo. Este empreendimento vai gerar três mil empregos diretos e mais de quatro mil indiretos. E finalizou: “Tudo posso naquele que me fortalece!”



Macapá, 14 de abril de 2011
     Lobaonaoemau.blogspot.com                 
Professor Lobão

Um comentário:

  1. É Professor... Não sou uma daquelas suas alunas que quando lhe vêem, vão lhe abraçar... Nem posso dizer que gosto do senhor... Mas o respeito... Isso é o que importa... E irei ser uma de suas seguidoras nesse blog porque ele fala sobre a palavra de Deus e tudo que se refere a Ele me interessa...

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