segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Círio de Vigia

Vigia do Círio
O círio de Vigia (a exemplo muitos vigienses ainda não me acostumei com Vigia de Nazaré) apresenta muitos personagens tradicionais e conhecidos pelos visitantes. Porém, alguns elementos, oriundos da modernidade, também aparecem no cenário da festividade. Muitos desses elementos são tão novos a ponto de assustar os mais acostumados com aquela vigia que não existe mais.
Há 20 anos não “passo” o Círio em Vigia. Por isso, tirei licença de meu trabalho só para saber se o povo de minha terra ainda vive o clima contagiante que vivi quando morei por aqui.
No início de agosto, saindo das férias escolares, o povo vigilengo mergulha nas procissões de Nossa Senhora das Neves, prepara-se para as comemorações da semana da Pátria e jogos estudantis, enquanto se aproxima o dia da grande romaria. Como diria Luciano, apresentador do caldeirão: loucura, loucura, loucura!!!!
Quando se aproxima o mês do círio, as pessoas daqui constroem, pintam, reformam e mobíliam as casas para impressionar os romeiros que, na maioria, são parentes e amigos. A indústria da construção civil é quem mais vende nesse período abençoado por Nossa Senhora.
No que diz respeito à culinária, a partir do dia 20 de agosto já é possível sentir o aroma da maniçoba que exala dos caldeirões em ebulição, na maioria das casas anfitriãs do Círio. Na feira da cidade, a tapioca, o pato e o tucupi já batem o Record de vendas.
Nos dias mais próximos do Círio, os políticos locais também aproveitam para inaugurar algumas obras – muitas delas inacabadas – tentando, assim, conquistar votos daqueles vigienses que não moram por aqui e não sabem a real situação política do município.
Nesse período, o movimento no terminal rodoviário é dez vezes maior que em outra época do ano. Vigia vira outra cidade.
Das pessoas que nos visitam por conta do círio, muitas vêm a negócio, outras apenas para as festas (que não são poucas). Há quem venha para visitar nossos balneários e ainda há aquelas que realmente vêm por devoção à Nossa Santa Mãe.
Com tantas pessoas chegando, procedentes não se sabe de onde, de precedentes desconhecidos, chegam também os novos e assustadores personagens e eventos deste novo município: assaltos, roubos, venda de drogas, prostituição, violência, exploração do trabalho infantil e a falta de espaços para pedestres, ciclistas e automóveis. A cidade fica pequena.
Os mais visíveis personagens que antecedem o círio são os “Homens de Preto” nas portas dos estabelecimentos comerciais - Seguranças, que há um mês antes da grande festa, já estão apostos: reflexo da falta de preparo do poder público para uma das maiores festas populares e religiosas do Pará.
Durante as peregrinações, devemos rezar para que os eventos negativos não ofusquem o brilho de nossa romaria. E que os novos personagens do círio não tenham tanto trabalho.
O que mais me preocupa é o medo  estampado no rosto dos vigienses neste tempo que devia ser apenas de exercício de fé e devoção.
O círio de Vigia já foi mais religioso. Hoje, não se tem a medida exata do que é religioso e do que é comercial. Lembro com saudade do tempo em que antes do círio só havia a festa na quadra do Bertoldo – e alguns católicos mais fervorosos ainda reclamavam.
Nesses tempos idos, a maior preocupação dos vigienses era com a pintura das casas. Hoje, é com os cadeados, grades e fechaduras.
Não quero parecer saudosista, mas sinto falta do círio das barquinhas, do velho dangue e das banquinhas de rabuçado no arraial.
Em Vigia festa é assim: uma grande e homogênea mistura: Tanto faz ser Círio ou carnaval. Tem problemas? Tem. Mas nada que o próximo Círio ou carnaval não façam o povo esquecer.
           
                                                                        Professor Lobão
                                                             lobaonaoemau@hotmail.com

domingo, 10 de julho de 2011

Da Série Vigia Sem vigia

Fazendo a Capa

É comum ouvirmos dizer, quando se fala de futebol (e Vigia sofre uma grande e forte influência desse esporte) que quem está de fora enxerga melhor a jogada. É provável que um simples torcedor não conheça o planejamento, a tática, o preparo físico ou o orçamento do clube, mas tem ampla visão dos resultados e assim sendo, tem propriedade para dizer se tais resultados lhes são plausíveis ou não.
Olhando para o serviço público de nosso país, podemos fazer a mesma comparação. O cidadão, talvez não conheça os permeios da administração, mas quer resultados. E não adianta o Governador ou prefeito vir com desculpas, pois durante suas campanhas, nenhum deles prometeu não resolver os problemas de seu Estado ou Município. Ao contrário, todos apontavam erros de seus antecessores e pousavam de peritos na gestão pública.
         No futebol há aquele jogador que entra em campo apenas porque o patrocinador exige que ele seja escalado, pois precisa expor sua marca ou seu produto e seu único compromisso é com aqueles que bancam sua carreira.
 Há também aquele jogador que joga para o time, quase não aparece, mas é fundamental para a equipe, pois funciona como um garçom. É o jogador que cumpre bem o esquema tático e técnico, e por ser disciplinado, não permite que o time fuja dos objetivos.
No campo político também há grandes jogadores. Aqueles que realmente estão preocupados com o Município do qual são representantes. São esses que buscam melhorar a vida de seu povo e durante suas campanhas não fazem promessas absurdas. Buscam sempre cumprir com as leis, inclusive a de responsabilidade fiscal. Procuram seguir o que reza o princípio da honestidade para com o povo e para consigo mesmos. Políticos assim estão em extinção, mas ainda há alguns por aí.
Em contrapartida, aparecem aqueles que não estão nem aí para o bem coletivo. São os que já entram em campo com seu “bicho” garantido. Não tem compromisso com a população e entram em campo apenas pra fazer finta, pois precisam fazer média para seus patrocinadores. Políticos dessa linha não jogam para o time, apenas para se autopromover. São daqueles com fama de matador, que esperam a equipe jogar em função deles. E como se diz no futebol, ficam em campo apenas para fazer a capa.
Tenho observado que, ultimamente, a prefeitura de Vigia retomou algumas construções e reformas. Percebi que estão sendo construídos os meios-fios (aquela caneleta lateral das ruas para dar vazão à água da chuva ou mesmo das residências); novos prédios para escolas também foram construídos, novos postos de saúde e pracinhas no interior  - agora com um coreto -, “só faltou a televisão”. Enfim, Parece-me que o prefeito não sabe (e ele é médico) que, enquanto não se constrói um prédio novo para um hospital decente no município, é necessário tornar decente o atendimento naquele que temos, ao invés de transformar o dinheiro público em casinholas que não abrigam ninguém da chuva e não servem pra fazer sombra.
Não fui aluno dele, mas sei que também atuou como professor nesta cidade. Mesmo assim não aprendeu que prédios novos não resolverão a vida da educação, se não houver investimento na pedagogia, na formação continuada dos profissionais, na qualidade do ensino e na valorização do professor. E isso deve começar pela promoção de concursos e por melhores salários.
Quanto ao calçamento das ruas, fico ainda mais preocupado, pois nossos velhinhos e crianças estão perdendo o direito de caminhar pela cidade. Acho mesmo que as ruas devem ser caçadas e com um sistema de esgoto decente. É o mínimo que um prefeito tem que fazer. Se, numa cidade do tamanho de Vigia, isso não for feito, melhor é não ter prefeito.
         O problema é a falta de consciência e educação no trânsito. Pessoas sem o mínimo de noção, habilidade e habilitação, inclusive menores, conduzem veículos automotores, colocando em risco a vida de muita gente que não conta com um serviço de fiscalização de trânsito como deveria. São inúmeros os delitos cometidos no trânsito desta cidade. Mas parece-me que a prioridade é melhorar as vias para esses condutores, que tentam justificar suas transgressões com a falta de sinalização.
A violência contra os torcedores, digo, contra os eleitores é gritante. Somos agredidos na saúde, na educação, na segurança pública e em muitos outros setores da administração pública municipal. Mas como disse anteriormente, estamos de fora e temos toda a visão do que está acontecendo dentro do campo, ou melhor, dentro do Município e qualquer hora vamos dizer aos quatro ventos que o “comandante” está mexendo errado no time, ou no setor errado. A torcida, ou os eleitores não querem fotos aéreas. Precisamos de investimentos na qualidade dos serviços públicos oferecidos à população. Não precisamos de obras apenas para fazer a capa.
Enquanto a saúde luta com todas suas forças para sair da UTI, enquanto o povo implora por um atendimento digno que possa lhe garantir mais alguns dias de vida, o Prefeito de Vigia de Nazaré parece acreditar mesmo no paraíso pós-vida terrena, pois está mais preocupado em proporcionar a seus munícipes o descanso eterno. Basta olhar para a necrópole da cidade.
 Durante o tempo que morei aqui, acompanhei a luta de muitos vigienses interessados em fazer de Vigia um pólo turístico que pudesse gerar emprego e renda para o município. Essas pessoas lutavam para que nosso Círio tivesse mais visibilidade no Estado, tentaram fazer da Igreja de Pedras nosso Teatro Municipal, reformaram a Cinco de agosto e informatizaram-na; tentaram organizar o calendário cultural do município e reconstruir o Forte do Barão de Guajará, no Taupará. Se esses vigienses, verdadeiros jogadores, daqueles que jogam para o time, tivessem, pelo menos sido escutados por nossos gestores, o lugar mais bonito a ser visitado por nossos turistas, hoje, em Vigia, não seria o Cemitério Municipal!!
                                                                  
                                                                                             Vigia, 10 de julho de 2011
Professor Lobão

sábado, 18 de junho de 2011

De quem cobrar?

Nossos Líderes Deveriam Ser Bons Exemplos
Um amigo, professor, me fez refletir sobre os culpados de nossa Capital (Macapá) está, como diria o pedreiro de quem fui ajudante por muitos anos, Jogada fora.
As ruas da Cidade das bacabeiras estão tão esburacadas que a cidade já está sendo chamada de: A cidade da Buraqueira.  A saúde, municipalizada, agoniza lentamente em seus prédios apodrecidos, sem as mínimas condições de trabalho para seus funcionários, que fazem malabarismos para atender a população. A educação, também municipalizada, mata lentamente a cada aluno, abarrotando as salas de meninos, sem funcionários de apoio e por falta de valorização de seus professores.
Em nossa Morena Capital, muitas categorias estão em greve e as que não estão ameaçam entrar. É bom que se diga que ninguém faz greve se tudo estiver bem.
Ao que tange o estado, meu amigo professor me fez pensar nas opções políticas que tínhamos para votar nas últimas eleições. Entre os dois finalistas que disputaram o cargo maior de nosso Estado, o povo resolveu acreditar nas propostas de Camilo Capiberibe e derrotou, nas urnas, Lucas Barreto.
 Hoje, diante dos problemas e escândalos que já aparecem no atual governo, escuto pessoas dizendo: Quem mandou votar nele? A estes quero lembrar que ninguém vota por acreditar em milagres, mas apenas em propostas, e foi isto que elegeu o atual gestor deste Estado.
O fato é que se juntarmos todos os nossos políticos (há exceções, sempre há) e colocarmos num liquidificador darão um suco homogêneo, se sair algum suco, é claro.
Dito isto, penso logo na minha culpa, em minha tão grande culpa!! Se os políticos que se apresentam para receber nossos votos não são qualificados, honestos ou comprometidos com os problemas sociais, por que eu e muitos outros cidadãos que se dizem trabalhadores, honestos e comprometidos com o serviço público, não nos colocamos a disposição do serviço político deste Estado?
Ficamos reclamando, culpando, apontando erros e falcatruas, mas na hora que o “galo canta” ninguém está disposto. Ninguém tem coragem de entrar para o rol dos bandidos, corruptos e desonestos (são estes os títulos que todos recebem).
A verdade é que, se as pessoas de bem deste estado, deste município, não se dispuserem a fazer parte da política, só nos restará lamentações, pois há quinze anos no estado, posso apontar quais as personagens dessa ciranda perversa que, assim como um câncer, corrói a paciência e o orgulho do povo tucujú.
Quando se aproxima o ano das eleições, aproxima-se da gente um número incontável de parentes de quem é, ou já foi governador, vereador, deputado, prefeito ou senador, pedindo voto para si e/ou para os seus. Há muito tempo que adotamos por aqui a política do Traz parentes. E como se fosse pouco, para piorar um pouquinho, há também o pessoal que disputa o Conselho Tutelar. Estes, por sua vez, buscam o apoio dos representantes de associações  - que não são poucas -   e que nem sempre tem associados, mas servem como cabide político deste ou daquele presidente, que ainda se autointitula “Presidente do Bairro”.
Dada a falta de opção de candidatos, meu amigo tentava me consolar dizendo: “Não se sinta culpado, pois você faz outra política. Você, bem como tantos outros professores, faz a política social, de esclarecimento. Tentam fazer de seus alunos, cidadãos críticos e esclarecidos, capazes de discernir entre o bom e o mau candidato”.
Agradeci o reconhecimento de meu amigo, que não me convenceu, pois meus alunos elegeram, nas últimas eleições, pessoas que conseguiram despertar no próprio povo a vergonha de ser deste estado e nos tornaram motivos de piadas para jornalistas de outras partes do país.
  Nos últimos anos elegemos João Henrique, Roberto Góes, Waldez Góes e a família Capiberibe e só estou falando do Executivo. É desta ciranda que falei anteriormente. E onde estão os movimentos sociais, como os grêmios, por exemplo, que sempre formaram novos líderes neste país? Parece-me que aqui não há e nunca houve.
Esta resposta, imediatamente, me levou a continuar minhas divagações sobre o futuro de nosso torrão. Se não nos comprometermos com as políticas, sejam elas partidárias, familiares, educacionais, religiosas, de educação, segurança, de saúde, política social como um todo, o que esperar de um estado, cujo melhor candidato, nas últimas eleições, estava preso e a Capital tem como Prefeito um Ex-Prisioneiro da Polícia Federal??                                             
                  
                                                                    
                                                                                                     Macapá, 16 de junho de 2011
Professor Lobão

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Língua Portuguesa

A Língua é a Regra, a Gramática a Exceção

Uma das primeiras bobagens que ouço falar quando o assunto é Língua, é que Latim é uma Língua morta.
Se pensarmos que assim como o falante, a Língua é viva, é provável que um dia ela morra. Porém, a Língua não é gente. Não ama, não pensa, “não tem identidade”. Portanto, não tentemos encarcerá-la nas gramáticas normativas da vida! Ela é um instrumento, por vezes, artístico do falante que ama, sente e que a usa para identificar-se.
 A Língua não morre! Como toda arte, se transforma – eu desafio quem me aponte algo com tamanho poder de mutação. A língua, seja ela qual for, é um produto e faz produto de quem dela se utiliza.
Dizer que o Latim, esta ou aquela língua é morta, é ignorar a evolução, as mudanças geográficas, econômicas e todas as outras diferenças de local, tempo e comportamento que determinam as modificações e jamais a morte de uma Língua. Sendo assim, não podemos tentar criar uma bitola para dar uma única forma às falas deste ou daquele povo, desta ou daquela classe social.
Não quero aqui e nem devo repetir o que dizem, com tanta propriedade, os linguistas, pois já conhecemos seus ricos argumentos. Quero nestas observações fazer um convite a uma reflexão acerca dos elementos determinantes para O Gostar ou não do estudo da Língua em nossas Escolas; fazer um convite à revisão de práticas que contribuem para nossos alunos afastarem-se sempre mais do estudo de nossa Língua, sob o argumento de que é muito complicada.
Na escola ainda é constante o ensino da gramática (e não a análise da Língua Portuguesa), da estrutura do texto, da frase, da palavra e até da sílaba. É este tipo de escola que dificulta o entendimento da Língua Portuguesa, pois a gramática é um cárcere para a língua que, assim como seu usuário, nasce livre. Daí dizermos que devemos educar para a adequada utilização da língua e não ensinar a falar.
Desde que começamos na escola somos bombardeados com intermináveis regras gramaticais. Aí, nos esforçamos, estudamos e “aprendemos”. Até que um dia, por uma questão política ou econômica, deputados que pouco entendem de linguagem, aprovam as mudanças ortográficas. E aí, tudo que “aprendemos” e “ensinamos”, temos que desaprender e desensinar.
Como já foi mencionado, a gramática pode ser modificada por acertos (ou desacertos) políticos ou econômicos e ainda por decreto. Chega a ser imposta e tal imposição se dá na escola – maior complexo democrático de um país.
A linguagem ninguém consegue dominar, prender ou apropriar-se dela. Ela é livre e segue apenas a regra de comunicar.
Não é necessário fazermos nenhuma pesquisa aprofundada entre os falantes de nossa Língua, para detectarmos que a maioria de seus usuários não precisa saber o que é uma oração subordinada, núcleo do sujeito ou sua classificação; objeto direto, predicativo do objeto e muito menos saber o que é dígrafo, hiato ou tritongo para se comunicar por escrito ou verbalmente.
Como já sabemos, o uso da Língua e/ou da Linguagem é um processo natural seja no campo ou na cidade, por um gramático ou por um linguista, por um piloto de avião ou por um caboclo...
Não estou querendo (e não seria irresponsável querer) que abandonemos a gramática ou as gramáticas (há várias e dos mais variados autores), pois elas são resultados de anos de pesquisa para nos auxiliar no uso da Língua (e somente para isto).
O fato intrigante é que os defensores do uso das regras gramaticais, independentemente do local, hora e contexto, por muitas vezes, divergem entre si, deixando professores e principalmente alunos mergulhados num imenso mar de dúvidas.  Isso acontece porque tudo que é fabricado traz na sua essência as marcas particulares de seu fabricante.
Há quem diga que o mesmo ocorre com a Linguagem e aponta as “particularidades” do regionalismo. Acontece que neste caso, a “particularidade” é coletiva, de um determinado grupo e só a este grupo serve. Além do mais, não se torna uma imposição a um país inteiro!
Recentemente presenciei uma conversa entre dois professores que discutiam sobre a pronúncia e grafia de uma determinada palavra. Tentei ajudar mostrando à professora de Língua Portuguesa (defensora da gramática) que na palavra MUITO não aparece nenhum acento nasalizador e muito menos N antes do T que possa obrigar a pronúncia nasalizada. Este é mais um caso ignorado pelos gramáticos, pelo simples fato de a Gramática não acompanhar a velocidade das mudanças da Língua. Ainda assim, nenhum gramático teve a hombridade de orientar para a vocalização da palavra. Parece-me que quando eles não têm como explicar suas exceções, fingem que não veem.
É urgente uma reformulação na metodologia do “ensino” da Língua Portuguesa em nossas Escolas. É necessário um olhar diferente para o modo de como devemos abordá-la. Se assim fizermos, estaremos minimizando a distância entre ensino da gramática e uso adequado da Língua.
Às vezes, por comodismo, medo ou falta de comprometimento, deixamos de passar informações importantíssimas aos nossos alunos, contribuindo para o retardo de seu aprendizado, pois, essa nossa falta de ação diante de algumas regras já ultrapassadas da gramática, levarão nossos alunos, num futuro bem próximo, a constatar nossa omissão.
Poderia citar inúmeros exemplos de regras que “aprendemos” e passamos aos nossos alunos sem nos dar o direito de pensar sobre a razão, aplicabilidade ou lógica. Aí, quando um aluno pergunta, cabe-nos o desconversar ou apresentar justificativas sem nenhum fundamento, contribuindo, assim, para a continuidade do ciclo de perguntas sem respostas e regras sem lógica.
Para finalizar, deixem-me apresentar apenas um exemplo: “O H é a única letra do alfabeto que não representa nenhum fonema”. Então o que dizer das palavras: chapéu, canhão e telha, por exemplo? Se o H não representa som algum, essas palavras seriam lidas assim: capéu, canão e tela. As letras C e L não precisariam dele (H) para representar outro som.
Aqui é possível perceber o quanto somos passivos e coniventes com a complicação no “ensino” de nossa própria Língua. Se essa letra não representa som, como pode ela modificar tanto as pronúncias de inúmeras palavras de nosso idioma.
Esta de dizer que não há fonema no H vem sendo transmitido de geração para geração (como nos disseram os professores de Geografia ao falarem do ponto extremo do Norte do Brasil – que nunca foi Oiapoque). Mas parece-me que, ignorando a linguagem, só vão falar do som do H, obrigados por decreto ou por força de algum acordo econômico.
O que temos que tratar nas Escolas é como utilizar adequadamente a Língua, apenas isto. Não podemos ser prepotentes a ponto de querer ensinar a Língua para o povo dela nativo. Isso, no mínimo, seria absurdo!

Macapá, 28 de maio de 2011.
Professor Lobão
lobaonaoemau.blogspot.com


segunda-feira, 6 de junho de 2011

Cão Educado, Soldado Raivoso

 Cão Educado, Soldado Raivoso
Era para ser mais um dia comum em minha vida. Caminhava pelo comércio de Macapá, fazendo pesquisa de preços e observando a movimentação das pessoas que vendem e compram; que desenvolvem alguma atividade no comércio.
Quando passei na Praça Veiga Cabral, achei o máximo A Guarda Municipal, sem armas de fogo, patrulhando a área com um cachorro muito educado que observava as pessoas e agia com muita segurança. Alguém me disse que aquele cão é muito bem treinado, educado para esse tipo de patrulhamento; que não importa a grau de periculosidade do meliante, o cachorro sabe que se não houver reação, deve apenas acompanhar. Nunca atacar, jamais agredir.
Mais a frente, quando eu e outras pessoas comuns, atravessávamos a faixa destinada a pedestres que há em frente ao Teatro das Bacabeiras, o destino me apresentou a um Policial Raivoso, daqueles que dificilmente serão adestrados, pois não tem o mínimo de preparo, vocação ou talento para lidar com pessoas.
Ele que deveria, no mínimo, agir como o cachorro treinado, fez justamente o inverso. Inverso a tudo que diz respeito ao que seria o comportamento de um Servidor Público, que deveria zelar pela segurança de cidadãos como eu e outros que passavam naquela faixa de pedestres.
 Você deve está se perguntando: Mas qual o nome desse Policial? Não pude anotar. Nem o nome, a placa da moto ou o número da viatura (qualquer atitude que desagradasse o “Policial” poderia ser fatal). Tudo que pude anotar naquele momento foi a fisionomia dele e a hora do ataque: 12:25h. Foram mais ou menos cinco minutos de muita tensão, pressão e ameaças que pareciam não ter fim. O jovem agredido foi obrigado a falar o mínimo e de cabeça baixa (tal como faziam os escravos ao se dirigirem a seu senhor), para não sofrer mais humilhação em plena Cândido Mendes.
Ao pisarmos na faixa de pedestre, como reza a lei e a boa educação, os condutores de veículos automotores pararam e esperavam que cruzássemos toda a extensão da faixa. Porém do outro lado da rua, na parte final da faixa chegavam três viaturas (motocicletas) da Polícia Militar.  Os dois Policiais de trás pararam como deveriam (antes da faixa de retenção), mas o da frente, sem o mínimo de preparo e educação, parou depois da faixa de retenção, já em cima da faixa de pedestres. Como se não bastasse, antes que o rapaz terminasse de atravessar a rua, ele deu partida em seu veículo. Se caso algum de nós, por algum motivo, decidisse voltar para apanhar um documento que tivesse caído, ou simplesmente decidisse voltar, seria atropelado.
Numa atitude de qualquer cidadão, que deveria ter seus direitos e seguranças garantidos, inclusive por esse “Policial”, o moço virou pra ele e pediu que respeitasse a faixa de Pedestres. Foi o suficiente para se iniciar uma brutal demonstração de força, abuso de poder, despreparo para o serviço público e o quanto estamos desprotegidos, tendo na corporação “Policial”, homens desse tipo.
Ele acelerava a moto, segurando a embreagem, fazendo aquele ruído desagradável que costumamos ouvir de condutores que perturbam o sossego público. Aparelhou a motocicleta ao jovem rapaz que continuou a caminhar na calçada e começou seu desprezível, pejorativo e humilhante discurso, que entendo ter maculado profundamente a imagem da Polícia Militar deste Estado.
Disse ele: “Qual é a tua seu filho da puta?! Tu não viste que eu te deixei passar, seu caralho?! Tu queres que eu te dê um monte de porrada, seu vagabundo,  viado!!!! E percebendo que o rapaz estava acompanhado de uma jovem que parecia ser esposa ou namorada, na tentativa de provocar uma reação que motivasse uma agressão física ou a prisão daquele cidadão, o Policial Raivoso passou a chamá-lo, repetidas vezes de Viado.
Depois de ouvir tantas palavras ofensivas e de baixo calão, ele disse que como servidor público, o tal “Policial” deveria, pelo menos, respeitar os sinais de trânsito. Então ele continuou sua fala: “Cala a boca se não eu te dou um monte de porrada e te levo preso. E repetiu os adjetivos já mencionados, desta feita em sequência. A raiva de um Cão se materializava no rosto daquele “ Homem da Lei”.
Sob a ameaça de ser preso sem motivo algum, restou ao rapaz, diante daqueles intermináveis minutos de pressão, provocação, humilhação e tortura psicológica, dizer a seu agressor que deveria ser agradecido por está lhe orientando a usar a faixa de pedestre com segurança. Entretanto, quando percebeu que, realmente, seria agredido fisicamente, o jovem rapaz engoliu a seco todas aquelas ofensas e seguiu caminhando pela calçada, quando o policial que vinha atrás orientou seu colega a ir embora.
Como já disse, não tive tempo para anotar nada, nem eu e muito menos o rapaz agredido. Pessoas que acompanharam esse triste e lamentável episódio, nem ousaram esboçar algum tipo de defesa, diante de tanta agressividade.  Pelo grau de ira daquele despreparado “Policial”, qualquer um que ousasse defender aquele jovem, sofreria a mesma agressão ou talvez pior.
Depois que as viaturas desapareceram fui atrás do jovem que me revelou ser professor. Disse-me também que lembra e nunca esquecerá o rosto daquele agressor. A jovem que o acompanhava (sua namorada, professora e bacharel em direito) também lembra muito bem da fisionomia daquele que deveria cuidar do cumprimento da lei. Ele me disse ainda que vai tentar encontrá-lo e identificá-lo. Assim que o fizer, levará a público e informará ao Comando Geral e a quem mais interessar melhorar a ação da Polícia em nosso Estado. Por falar em comando Geral, quero deixar uma sugestão para descobrir quem é esse “Policial” que está maculando o nome desta importantíssima corporação: Reúna todos os Policiais que estavam de serviço, em viaturas motocicletas Cross, naquele dia. Entre em contato comigo, que localizo o professor e sua namorada para fazerem o reconhecimento. É fácil.
Era dia 02 de junho. Na Avenida Cândido Mendes, às 12:25, em frente ao Teatro das Bacabeiras, numa das mais movimentadas vias do comércio de Macapá.
 A partir daquele absurdo e deplorável episódio, fiquei pensando que a utilização de cães no patrulhamento das ruas, como aquele, treinado pela Guarda Municipal, seria mais acertado e menos nocivo à população. Penso que precisamos de mais Cães Policiais, treinados para manter a ordem e o respeito; e também para respeitar. Mas como disse, apenas penso, pois não sou especialista em segurança pública. Mas de uma coisa eu tenho certeza: Não precisamos de “nem um” Policial- Cão fortemente armado, atacando e agredindo a quem deveria proteger.
                                                                                                     
 Macapá,03 de junho de 2011
Professor Lobão
                                                                                           Lobaonaoemau.blogspot.com



sábado, 4 de junho de 2011

Celular: Questão de Seurança

                 
                  Celular na Escola: É Bom Pensar Nisso
Imagine o silêncio e a concentração (a muito custo conseguidos em sala de aula) bruscamente interrompidos por um toque de celular, que alunos carregam, sem o menor objetivo pedagógico, pelos corredores das Escolas do País. Imagine o quanto eventos como esses atrapalham o andamento de trabalhos, como oficina de leitura, resolução de cálculos matemáticos, que exigem de professores e alunos, o mínimo de silêncio e concentração.
Não sou daqueles defensores do tradicional apenas por não concordarem com as novidades do mundo moderno que, diga-se de passagem, têm muito a oferecer principalmente para a Escola. Mas penso que é preciso uma reavaliação para a utilização dos equipamentos eletrônicos colocados à disposição de nossos alunos durante o período que permanecem na Escola.
Se perguntarmos a alunos, pais e alguns professores (apontando para um aparelho celular) o que temos nas mãos, a maioria responderá que é um telefone. Uma resposta terrivelmente cega!
Muito mais que isso, estamos colocando nas mãos de nossos alunos e filhos máquinas fotográficas, câmeras filmadoras, aparelho de mp3 ou mp4; relógio, calculadora, gravador de áudio, pen-drive e para aqueles que tiverem condições de colocar créditos, telefone.
Para aqueles que acham que esse aparelho que revolucionou a comunicação eletrônica é algo inofensivo, gostaria de relatar o que temos presenciado, nos últimos anos em uma Escola Pública em Macapá, e penso que em muitas Escolas do Brasil.
Alunas, com idade insuficiente para responderem por seus atos, de posse dos tais aparelhos, utilizando-os como máquinas fotográficas e filmadoras, pousaram e pousam, mostrando seus, ainda nem formados seios e parte de suas roupas mais íntimas, dentro de um dos banheiros da Escola.  Não sabemos se o fotógrafo era homem ou mulher, o que também não importava muito, pois as fotos passaram de um aparelho para outro, via Bluetooth, ou outro tipo de recurso propagatório, que só pais e alguns professores desconhecem.
Em outro caso, as imagens de uma jovem, em atos íntimos, provavelmente num motel, com seu namorado, foi parar em centenas de celulares em questão de minutos, causando enorme constrangimento à jovem, sua família e à Escola.
        Pessoas que praticam esse tipo de divulgação, normalmente o fazem via Celular de um menor (aluno), pois sabem das penalidades, e sabem também que esse aluno, ainda menor de idade, jamais responderá pelo porte de um aparelho (quando mal utilizado) tão prejudicial à sociedade e a si mesmo.
Menos grave (sob a ótica policial) são os casos citados no início deste artigo. Meninos e meninas, sem a mínima noção, ou por pura indisciplina, usam os aparelhos celulares como i-pod, ou outro tipo de reprodutor sonoro, no mais alto volume e sem fones de ouvidos, atrapalhando os trabalhos desenvolvidos em sala de aula. Isto na visão pedagógica é tão grave quanto às situações mencionadas anteriormente.
No final de 2010, em fuga, um jovem entrou na Escola, seguido por outro, supostamente armado, o que deixou alunos e funcionários em pavorosa. Imediatamente alguém acionou a polícia. Assim que os policiais chegaram, alunos foram vistos, informando, sabe-se lá pra quem, fora da Escola, cada movimento dos Policiais. E por ser um aparelho móvel, sem fio, pequeno e fácil de carregar ou esconder, esta é mais uma das várias “utilidades” de um aparelho celular. Foi o que se percebeu naquele dia fatídico na Escola.
Como se não bastasse, meninos e meninas que possuem celulares são abordados na saída, ou antes, de entrarem na Escola e são constantemente usados por traficantes para aliciar outros adolescentes, utilizando-se de mensagens, transferência de músicas com letras persuasivas, dentro de seu propósito criminoso, é claro. E mais: Esses aliciadores, sem os pais saberem, evidentemente, colocam pequenos valores de créditos nos telefones de nossos alunos e filhos (pois, sabem que receberão das operadoras, grande quantidade de “bônus”) e assim, como troca de favores, usam esses bônus para fazer contato com outros bandidos, praticando, assim, seus atos ilícitos de um telefone, do qual o dono jamais será indiciado.
Não estou aqui generalizando. Acredito piamente que há mais gente honesta e justa no mundo do que bandidos e aproveitadores. Mas Nossos filhos e alunos, na idade de formação de caráter estão à mercê da ação desses bandidos e de quebra ainda atrapalham o processo pedagógico.
Enquanto não arrumamos um mecanismo que possa identificar quem é de boa índole ou não, penso que a Secretaria de Educação, Conselho Tutelar, Deputados, Vereadores, Secretaria de Segurança Pública, Padres e Pastores deveriam arrumar um jeito de proibir o porte de aparelhos celulares de qualquer natureza, por alunos, nas dependências da Escola.
Em alguns Estados americanos já há este tipo de proibição e o número de roubo, furtos e aliciamentos de menores, praticados tendo o celular como principal ferramenta, caiu em significativamente. Em algumas Escolas do Brasil já há uma discussão a respeito desse problema, mas sempre esbarra na opinião daqueles que cultivam a teoria do “quanto pior, melhor”. Pessoas irresponsáveis que não conseguem pensar em outra coisa a não ser em si mesmas; que não conseguem enxergar o tamanho do mal que o uso de aparelhos celulares dentro da Escola causa à educação, à sociedade, a seus filhos e a elas próprias.
Depois de divulgado este artigo (ou desabafo), aparecerão aqueles que se dizem defensores de direitos humanos, da liberdade, livre arbítrio e até do direito de ir e vir. Há também aqueles professores sensacionalistas que irão fazer mil argumentos de liberdade, de direitos do estudante no que tange o uso de acessórios. Para estes, quero dizer apenas que nossos meninos precisam ser educados para aprender a usar e usufruir de sua liberdade; e não é preciso dizer que essa liberdade não foi conquistada por eles, mas por seus pais, avós e bisavôs.
Se não fizermos nada, agora, para impedir que nossos filhos e alunos confundam liberdade com anarquia, o que podemos esperar que eles ensinem a seus filhos?
Assim como muito educadores e pais, sonho com o dia em que não precisaremos de leis para que todos façam sua parte na educação e na formação de nossos filhos, mas enquanto isso não acontece, precisamos usar a força da lei.
Penso que o que mencionei neste artigo já é o suficiente para todos nós e as autoridades políticas, jurídicas, pedagógicas e religiosas tomarmos uma atitude. Se ainda não for o bastante, esperemos o pior acontecer, afinal, não há nada tão ruim que não possa piorar!!
                                                       Macapá, 28 de maio de 2011
                                                                         Professor Lobão

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Saúde Pública

“O Bloco B”
Nos últimos dois anos, tenho acompanhado minha mãe (diabética) em suas consultas no Hospital geral de Macapá. Podia levá-la a uma unidade particular, mas entendemos que já pagamos muito caro para se ter, no mínimo, um atendimento razoável e temos que fazer valer nossos direitos.
Enquanto escrevia estas linhas fiquei observando as atrocidades que ocorrem nos corredores do “Bloco B”.
Bem piores que minha mãe (que tem filhos pra acompanhá-la, vem de carro e tem um ou dois reais para comprar uma água mineral), estão muitas pessoas de idade bem avançada, com seus movimentos físicos comprometidos, apoiados em pedaços de madeira (aquilo não é bengala); tímidos, na hora de pedir uma informação e com um desejo  de ser bem atendido estampado nos olhos. 
Não sei que tratamento recebem no consultório, mas nos corredores do “Bloco B”, a situação é humilhante.
Enquanto aquelas pessoas, que trabalharam e contribuíram a vida inteira para com este estado, imploravam por um tratamento digno, hora e outra pessoas de jaleco branco saíam dos consultórios, paravam diante dos pacientes, alheios a todo aquele sofrimento e comentavam o capítulo da novela da noite anterior, ou quem foi eliminado do Big Brother, eliminando o último fio de esperança daquela gente de receber a notícia de que seu médico chegou (pelo menos isso).
Os homens e mulheres de  branco parecem anestesiados pela falta de condições de trabalho, pelo baixo salário e pela falta de humanidade. Se contassem uma piada para aquelas senhoras, senhores e crianças, sedentas por atenção, fariam coisa melhor que preencher fichas e fingir que nada está acontecendo por ali.
Tentei falar do atendimento, mas desistir. Nos corredores do “Bloco B” não há atendimento!!
Lembrei, então, de quando era menino, no interior do Pará e alguém me prometia um presente pelo natal – cada vez que alguém batia à porta meu semblante mudava e a esperança de receber o tal presente, quase se materializava em meus olhos. Liguei esta situação a situação daquelas pessoas nos corredores do Hospital Geral.
 O ruído de uma porta se abrindo tornara-se o sinal pro mais perfeito sincronismo de cabeças em busca de um simples olhar complacente. Em cada porta aberta pelos funcionários daquela unidade de saúde, era visível o brilho nos olhos sofridos daquela gente maltratada. Parecia coreografado o movimento das cabeças ao menor ruído de uma porta se abrindo – ansiedade pelo atendimento.
 É impressionante como aqueles “pacientes” imploram por uma resposta, uma informação, um gesto gentil, tipo: “Querido (a)!! Seu médico já está chegando. O Senhor(a) aceita um copo d’água?! Dizem isto sem proferir uma só palavra. Só não entende quem não tem o mínimo de sensibilidade .
Estes absurdos do “Bloco B” me remeteram imediatamente à Pet shop, onde minha namorada leva seu cãozinho. Lá, logo na chegada, alguém pega o animal, examina-o e leva-o para o Box de higiene, enquanto o dono se delicia com um gostoso café.
Aqueles coitados contribuintes do estado “têm menos direitos que um cachorro”. Tive a impressão que alguns funcionários estão ali obrigados, sem o mínimo de vontade de exercer um ofício tão importante e, muito menos, vocação para o serviço público.
Na Pet shop um animal leva, no mínimo, três horas para tomar um banho. Não sei  o que acontece no consultório, mas na fila, nenhum cachorro ganha dos pacientes: a espera chega a quatro horas.
Não sei o que vai acontecer se mandarmos nossos pacientes para a Pet shop! Mas, se mandarmos nossos cachorros para o “Bloco B” do Hospital Geral de Macapá, eles irão se sentir muito mal!!!!

                                        Professor Lobão 
                                     Macapá, 12 de abril de 2010
lobaonaoemau@hotmail.com

Escola Analógica

Escola analógica

Esta semana iniciei, com meus alunos do nono ano, os trabalhos de leitura. Durante o semestre, eles são orientados a ler dois romances. Atividades quase impossível para meninos e meninas  habitados a  outro gênero textual.
Enquanto explicava como será a dinâmica do trabalho com os romances, fui interpelado por um aluno, que parecia ser o porta voz da turma, com a seguinte pergunta: “Professor, eu posso assistir a um filme com o mesmo título do romance? – ele se referia a um desse romances adaptados ao cinema: Romeu e Julieta, O Senhor dos Anéis, Crepúsculo, Lua Nova, dentre outros.
De imediato e automaticamente, meio que conduzido pelo aprendizado acadêmico, muitas vezes dissociados do mundo real e sem coragem de se  contrapor as regras desatualizadas do ensino, respondi: Não! Não é a mesma coisa!!! O livro é melhor e contém  detalhes que vocês jamais perceberão no filme.
 Com essa resposta seguida de uma série de argumentos, vi a turma murchar diante da empreitada a que era  submetida. Claro que há exceções e alguns alunos preferiram ler mesmo um livro.
Já em casa, avaliando meu trabalho diário e semanal, comecei a pensar naquela situação ocorrida em sala de aula.
Aquele garoto, com seu jeito particular de ser, me disse que é preciso acompanhar a evolução das coisas. Com cuidado, mas é preciso acompanhar.
Associei isso às inúmeras técnicas e recurso didáticos e pedagógicos que podem ser usados na educação e nós nos recusamos a utilizar pelo simples fato de não termos sido educados com estes recursos. Fiquei pensando na pergunta daquele aluno.
Há quinze anos tive contato, em Belém, com o quadro digital. Fiquei impressionado e falei isso na escola que trabalhava: fui ridicularizado.
Também pudera, ainda estávamos na era do cuspo e giz. Mas hoje, em pleno século vinte e um, tempos modernos dos celulares minúsculos (ou maiúsculos - o bonito é relativo e o moderno é cópia do passado), da TV digital, da internet, e de tantas outras modernidades para facilitar a vida do homem, ainda damos respostas como a que dei ao meu aluno e carregadas de argumentos.
Ora!! Se um dos objetivos da escola é informar, temos que facilitar a chegada dessas informações aos nossos meninos. Digo isso, porque não mais me admitirei, diante de tantas tecnologias, que podem facilitar o acesso de meus alunos às boas leituras, insistir que eles leiam como meus avós, meus pais e como eu mesmo fui introduzido na leitura.
Leitura não é exatamente a decodificação de um texto impresso nos livros didáticos ou em outro tipo de papel. A leitura vai muito além disso. Ler é o poder de compreensão que um cidadão pode ter, da rua onde mora, de seu bairro, de sua cidade, da situação política de seu país e de sua participação para o bem ou para o mal, em sua sociedade.
Há muito tempo atrás a leitura era feita em textos extraídos das paredes das cavernas, depois do papiro e foi evoluindo até chegar ao papel. Neste caso temos uma prova da evolução da escrita e consequentemente da leitura.
Assim, sinto-me envergonhado pela resposta que dei ao meu aluno. Se quero que meu aluno tenha contato com outros textos que não sejam as besteiras impressas em letras medíocre de algumas músicas, dos reality shows da vida, dos programas de auditórios do domingo e das receitas de comida, que a televisão os apresenta todas as manhãs, preciso lançar mão dos recursos que chamem atenção dos alunos e, que certamente, facilitarão o entrosamento entre o educando e a obra.
Diante de tanta ferramenta tecnológica, insistimos nas antigas ferramentas menos atraentes e que só distanciam os alunos das grandes obras. É verdade que o filme não contém todos os detalhes  da obra escrita, mas não foge da essência.
Hoje, quando a escola sofre um verdadeiro bombardeio de influências negativas, ficamos entrincheirados, como dizia meu irmão: “fazendo guerra de baladeira” e virando as costas para armas mais modernas e eficientes. A escola não pode se encolher ou se recusar a usar o que puder de mecanismos modernos para atrair seus alunos e levá-los ao contato dos mais variados tipos de leitura. Como disse anteriormente, a leitura não está apenas nos livros e não deve ser confundida com decodificação de signos gráficos.
Se o aluno terá contato com a história, se ele ficará informado assistindo a um filme na TV , no cinema ou em seu aparelho e DVD, por que não aceitar que ele busque sua própria forma de ler; por que não permitir que ele faça a leitura da forma que  lhe pareça mais agradável.
Penso, que se não se perde a essência devemos, mais que indicar a obra, incentivá-los a buscar o melhor recurso para que, de uma forma ou de outra, esses meninos tenham conhecimentos de nossas obras literárias. Temos que fazer da tecnologia uma aliada e não uma adversária. Pois se optarmos por fazê-la adversária, na certa sairemos derrotados: Não dá pra ganhar do mundo que tem quase tudo digital, armados de quadro e pincel (nossas mais modernas armas). É muito difícil ganharmos uma luta no mundo digital, munidos de armas totalmente analógicas.

Macapá, 05 de março de 2011
Prof. Lobão









domingo, 17 de abril de 2011

O Poder da Palavra de Deus (da série contos Urbanos)

O Poder da Palavra de Deus

Era uma bela manhã de sol. Antes do final daquela missa de cinzas, o Padre havia convidado os fiéis para a carreata em homenagem à Santa Padroeira do lugar, que seria realizada no fim do ano – ainda era fevereiro.
 E foi quando o povo ainda saía da igreja que aquele homem, vestido em uma espécie de jaleco bem surrado, calça nas mesmas condições, chinelo de dedo e um boné com propaganda de uma concessionária, chamou a atenção de todos, em alto e bom som, dizendo: “Preparai os caminhos. O tempo está próximo. Endireitai as veredas. Todos os vales devem ser aplainados!!!  Antes de qualquer procissão, antes de qualquer carreata, pensai nisso! Não sou Padre nem Pastor, mas trago-lhes a Boa-Nova!!! Preparai os caminhos!!!
Todos que o ouviram, por um instante e durante tempo depois, ficaram perplexos. Como um homem tão simples poderia proferir palavras tão sábias. Como teve coragem para dizer aquilo na frente da igreja e após o convite do Padre?
A verdade é que a partir daquele dia, o comportamento dos fiéis católicos e de outras igrejas nunca mais foi o mesmo. Passaram a pensar mais sobre as palavras daquele profeta contemporâneo, com aparência de um antigo hebreu.
Depois daquele eloquente discurso, o sábio homem passou, quando interpelado sobre sua nobre e única pregação, a responder o seguinte: Quem quiser conhecer a verdade, a boa-nova de meu Pai, precisa seguir meus passos. Não caminhem por trilhas estranhas. Não busquem os atalhos, pois o que tenho para mostrar é o paraíso. Nessa terra prometida, de caminhos aplainados, ninguém precisará de um atalho. Caminhar será mais importante!
Com essas palavras, o número de seguidores aumentava. Vinham pessoas de todas as partes, de todas as religiões em busca das palavras daquele homem, que não falava muito, mas quando falava, fazia o povo pensar, imaginar a boa-nova por ele anunciada.
Famílias inteiras mudaram seus comportamentos, as escolas buscaram novas metodologias, as igrejas mudaram suas filosofias e todos passaram a cobrar mudanças do governo, pois aquelas palavras (endireitai as veredas e aplainai os vales) fizeram o povo pensar e se organizar para cobrar dos líderes políticos, religiosos e outras autoridades, aquilo que o próprio Cristo pregou: “Vida. E vida em plenitude”.
Parece que aquele profeta contemporâneo trazia para o Século XXI, as reflexões propostas por Jesus há mais de dois mil anos. Havia até aqueles o chamavam de O Novo Messias.
E assim, com base na coragem, nas palavras e no tom seguro de proferir passagens bíblicas daquele homem desconhecido, profundo conhecedor das palavras de Jesus, ou de João (como muitos diziam), a cidade se transformou.
Em menos de um ano, novas escolas foram construídas, o mercado foi reformado, a companhia de energia elétrica melhorou o serviço, novas empresas telefônicas instalaram-se no município, abriram-se novas lojas e supermercados; praças e novos hospitais foram construídos e as ruas, que eram de chão batido, foram todas asfaltadas.
Enquanto a cidade se transformava, enquanto as pessoas mudavam e melhoravam suas vidas, tanto econômica quanto moral e espiritualmente, aquele homem continuava sua pregação nas praças e portas de igrejas, sempre com as mesmas palavras, ou quase as mesmas, de vez em quando, outra breve citação.
Quando se aproximou o dia da carreata anunciada pelo Padre, o “Profeta” apareceu na praça da igreja e disse (sempre em alto e bom som, mas com a peculiar serenidade de um sábio): “O dia em que todos se sentirão felizes ao caminhar está próximo! Neste dia ninguém se importará com a distância, pois assim como o Pai me enviou, pelos planos caminhos, eu vos enviarei”.
Sabendo que se tratava do dia da carreata, católicos, evangélicos, Testemunhas de Jeová, adventistas, espíritas, macumbeiros, candomblé e muitos outros seguimentos religiosos organizaram-se pra seguir a carreata. Pois era certo que naquele dia, aquele homem com aparência de um profeta, que falava de um pai, tal qual Cristo falou, faria a grande revelação. Revelaria a boa-nova.
E assim, a cidade viveu dias de expectativa, apreensão, angústia, esperança e ansiedade. O Padre, o Pastor, os Político e os Empresários locais viviam um misto de sentimentos.
Se mesmo antes da revelação, as palavras daquele homem já haviam feito uma revolução no lugar, não sabiam o que pensar e nem o que dizer a seus comandados, após a tal revelação.
Quando a procissão, organizada pela igreja Católica chegou ao final, em cima do capô de um carro, o tal profeta ficou de pé, com sua habitual serenidade, agora de posse de um microfone, que um desses políticos sensacionalista lhe providenciou (mas não precisava, pois as pessoas iriam escutá-lo no mais absoluto silêncio), ele levantou os olhos, fitou a multidão e disse: “Vejo que nesta cidade, não há mais criança sem escola, sem lazer e sem direito a vida. As autoridades estão cuidando das coisas de Cezar. Os líderes religiosos cuidando das obras que são de Deus. Eu também cuido das coisas de meu Pai. A mais importante das mudanças foi feita em suas vidas e nesta cidade. Por isso, o Pai me ordenou anunciar-lhes a boa-nova.
Os vales foram aplainados, as veredas foram endireitadas e os governantes prepararam os caminhos. Agora, todos vós podeis compreender que caminhar em ruas pavimentadas é mais prazeroso. Com as ruas esburacadas, como estavam, jamais, meu pai lhes traria a boa-nova. Era preciso preparar o caminho!!!
E continuou: Bem-Aventurados os pacientes, pois estes terão a recompensa da espera! É principalmente a estes que trago a boa-nova de meu pai: Hoje, com as ruas aplainadas, asfaltadas, meu pai (tirou o boné e mostrou as inscrições à multidão) proprietário da MOTRIX CAR, implantará neste município, uma filial de sua empresa de transporte e turismo. Este empreendimento vai gerar três mil empregos diretos e mais de quatro mil indiretos. E finalizou: “Tudo posso naquele que me fortalece!”



Macapá, 14 de abril de 2011
     Lobaonaoemau.blogspot.com                 
Professor Lobão

domingo, 3 de abril de 2011

Consultas ou Insultos (da série Vigia sem Vigia)

Consultas ou insultos

Não me lembro bem o dia, mas a pedido de um velho amigo, fui ao posto de saúde de Vigia de Nazaré, no nordeste do Pará.
Em menos de duas horas naquela unidade de saúde, onde pessoas vão na esperança de serem bem recebidas, tive a infelicidade de presenciar o descaso das autoridades com a saúde pública daquele município. O pior é que as pessoas já nem reclamam do péssimo atendimento. Talvez para não perderem tempo ou por não terem visto coisa melhor.
Meu amigo chegou com dois tiros na perna e não recebeu, sequer, um olhar de acolhida. Menos de um minuto depois, um fiorino-baú chegou trazendo um jovem desmaiado (epilético) e nem ao menos um auxiliar de enfermagem para recebê-lo.
Já no interior do "hospital" encontrei outros amigos: uns funcionários, outros pacientes. Entre os pacientes estava Orlando (ator), que parecia estar fazendo teatro, pois sua consulta demorou um pouco mais de um minuto - logo percebi que seu tempo de consulta estava dentro da média.
Diante do tempo de consulta de meu amigo-paciente, resolvi cronometrar as outras consultas e constatei que meu amigo, realmente, não estava fazendo teatro, pois o paciente que mais teve a atenção do médico que consultava, permaneceu no consultório dois minutos e quarenta e um segundos, e o mais desprovido de sorte, permaneceu na consulta quarenta segundos e vinte e um centésimos. Não sei se era eficiência ou deficiência no atendimento - fiquei atônito.
Tudo isso me remeteu ao serviço de auto-lavagem, onde lavo minha moto em Macapá. Lá, logo na recepção, alguém toma as chaves do veículo, estaciona e lhe serve suco ou café. Eu e minha moto somos muito bem tratados. Se eu pudesse compará-la a uma pessoa, diria que tem mais sorte que os "vigienses de Nazaré".
Moro no estado do Amapá há doze anos e percebi que nesse período Vigia cresceu, atingiu a maior idade e mudou de nome - é um direito seu. Pelo menos isso, já que o descaso e a incompetência lhes negam, entre outros, o direito à saúde.
Ainda bem que agora é Vigia de Nazaré, do carnaval e da fé. Então, sigamos com fé, pois a saúde pública já falhou e como disse Gilberto Gil: A fé não costuma falhar.
Ah! Ia esquecendo! A moto, só para tomar um banho, leva um pouco mais que duas horas e é apenas uma máquina sem alma, sem rosto, sem sentimentos.
                                                                                                        Professor Lobão em 05/11/2009